segunda-feira, 5 de maio de 2014

Quais as chances da Dilma perder a eleição?



Essa pergunta me foi feita, por um amigo americano radicado no Brasil, a alguns momentos atrás. E me fez pensar.  Como ele nunca viu uma eleição por aqui, não conhece a dinâmica e as regras.  Ele olha para os números das pesquisas, começa a ver uma chance mas é difícil avaliar o tema.

Pois bem, para responder coloquei a ele alguns pontos:

1 - Os números de intenção de votos, neste momento, pouco importam.  Algumas pesquisas colocam Dilma uns 15 pontos a frente do Aécio, que está empatado com Campos.  Outras colocam a presidente a pouco mais de 8 pontos, já indicando segundo turno.  Apesar de ser um importante termômetro de tendências, não vejo os números em si tão relevantes.  Don't take it at face value.  O importante são os índices de rejeição dos candidatos, e de aprovação (ou não) do governo atual, e nesta altura do campeonato conta mesmo é a matemática de ida ou não ao segundo turno.

2 - A Dilma estava forte, levando de trivela, mas engasgou.  Engasgou lá atrás, no meio de 2013, durante os protestos.  O povo se rebelou, e é lá que coloco o início do desespero.  Se recuperou, anunciou coisas que não pode cumprir, o mercado deu uma melhorada (tanto financeiro quanto o duo inflação/desemprego) mas foi fogo de palha.  A estiagem veio (nunca ache que a natureza não pode influenciar, mesmo que diretamente, um pleito), e os alimentos subiram entre 10 e 20%.  Brasileiro em geral é pobre e pensa com a barriga (ou com o carnê das Casas Bahia), e começou a ver que o dinheiro valia menos do que parecia.

3 - Inflação é algo que foi domado a 20 anos, saiu do radar imediato das pessoas, mas inconscientemente ainda está na cabeça do cidadão que vive por aqui.  Dilma e sua equipe acharam que "só um tapinha não dói", e um pouco de inflação seria aceitavel para o crescimento baseado em crédito continuar a funcionar.  Mas o medo está lá, enraizado, como o stress em alguem que volta calmo de férias mas estoura logo na primeira reunião. Decidiram inflar a economia na base do consumo, e a conta está aí, vencendo antes do que se pensava.  E ainda nem pagamos a conta-petróleo e de energia elétrica, que promete piorar as coisas.

4 - Pouca coisa tem funcionado no Brasil.  Mesmo a responsabilidade básica do estado é fraca.  Saúde pública já é ruim nos estados ricos (onde o PSDB, por sinal, está na frente), e nas áreas mais carentes então a situação é caótica.  A Infraestrutura está 10 anos aquém do necessário (coicidentemente o tempo que Lula surfou o bull market de commodities e BRICS sem investir), não temos energia suficiente para aumentar a produção industrial, e muito mesmo como escoar nossas safras recordes com eficiência. A Segurança Pública é uma questão a parte (morre por ano a mesma quantidade de gente assassinada que os Estados Unidos perdeu em 5 anos de guerra do Vietnã), e há uma suspeita imensa de que integrantes do governo federam sejam sócios dos grandes traficantes da América do Sul.  Por fim, a Educação, que deveria ser o pilar das mudanças a longo prazo, é tratada como instrumento de doutrina de esquerda, sem gerar o conhecimento necessário para nos colocar competitivamente no mundo (vale ler a entrevista de Claudio Haddad na Veja da semana de 05 de Maio).

5 - Voltando à Economia (já falamos de inflação), o governo não acerta uma sequer medida para tentar corrigir o rumo, com medo de ser impopular e fazer ruir o que resta de sua aprovação.  Uma equipe fraquíssima rege o Banco Central e o Ministério da Fazenda.  Sem coragem ou conhecimento técnico para encarar de frente a real situação, decidem enfrentar o mercado e dar remédio contra os sintomas pontuais ao invés de algo mais forte (e amargo) para curar a verdadeira doença.

6 - Enquanto tudo isso acontece, temos dois grandes temas no radar: a Copa do Mundo, com seus escandalos de gastança desenfreada em estádios e o inverso com pouquíssimos investimento em obras perenes (mobilidade, segurança, etc). É incrível, mas teremos um evento baseado na maior paixão nacional que conseguiu virar a população contra o que mais ama; e os Escandalos Múltiplos da Petrobrás, Odebrecht, Correios, IBGE, Youssef, Andre Vargas e o atual candidato do PT ao estado de São Paulo já nas cordas metido na lama.  Tarso Genro acabou com o Rio Grande do Sul, estado que poderia dar votos a Dilma (conterrânea).

7 - Temos o partido da situação clamando pela queda da atual presidente e a volta de Lula, que não volta de jeito nenhum (o nome dele já está na história como um ótimo presidente, será que vale a pena assumir o problema e ministrar o tal remédio amargo?).  Mesmo assim, é um péssimo sinal, assim como é também o PMDB debandando da base aliada, como ratos que fogem primeiro durante o naufrágio de um navio.

Mas e a oposição?

Aécio e Campos, dois candidatos inteligentes e com discurso republicano, somaram o resultado (negativíssimo) dos tópicos 2 a 7 acima e se capitalizaram menos em méritos próprios e mais nos erros dos outros.  Primeiro, chegaram a um acordo de armistício onde quem for para o segundo turno leva consigo o apoio do outro e dá lugar a eles no novo governo.  Segundo, entenderam o esgotamento do modelo sul-americano de populismo, que tende a não funcionar no Brasil (como foi feito na Argentina, Bolivia e Venezuela) pois o governo trouxe para cima as classes D e E e eles não querem voltar a viver na miséria.  E, terceiro, criaram a possibilidade de um novo governo sem o PMDB sendo o fiel da balança, algo que nunca se viu em nossa jovem república democrática.

Mas por favor, leitor, veja que eu não falei bem dos candidatos de oposição o tanto quanto falei mal da atual presidente e seu exercito marxista.  A questão central é exatamente esta: se tivermos APENAS uma chance de que alguém pare de fazer as coisas erradas e pense como alguem do século XXI, que não combata o desemprego ou a inflação diretamente mas sim crie condições para que os dois desapareçam, que entenda que o estado é um mau administrador de empresas.  Um governante que tenha noções basicas do que funciona ou não, que tenha BOM SENSO para focar em um bom ambiente de negócios, em infraestrutura, educação básica, segurança (outro remédio amargo)... aí sim, talvez tenhamos uma chance.

Estamos longe de ter um Ronald Reagan ou uma Margareth Thatcher (e talvez nem precisemos rumar por tais caminhos).  Ainda não temos maturidade política, nossa democracia e nossa estabilidade econômica
estão em sua infância. Mas parar de fazer as coisas erradas já será um bom começo.

Se a política é a arte do menos pior, temos então duas opções que parecem ser razoáveis. Que venha então o segundo turno. Vote com consciência.

The Turtle

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Disclaimer: sou de direita, vou votar na oposição e meu texto tem sim viés político para este lado.  Este viés vem do sentimento de frustração, medo e desilusão que sinto com este país e sua administração loteada.  Não espere imparcialidade, isso aqui é um blog privado e tem dono.  E você certamente não é o dono.


2 comentários:

  1. (vale ler a entrevista de Claudio Haddad na VEJA da semana de 05 de Maio).....
    Parei de ler o texto ai.
    Usar a VEJA como referencia em um texto, é invalidar o mesmo ( por melhor que ele seja )
    =/

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    1. Descartar um texto baseado em um vonceito generalista mostra fraca capacidade de pensamento. Obrigado, mesmo assim, pela visita.

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